ME ABRACE PATIS

terça-feira, 22 de maio de 2012

O poder da educação


O Poder da Educação
Conta-se que o legislador Licurgo (legislador grego que deve ter vivido no século quarto antes de Cristo) foi convidado para proferir uma palestra a respeito de educação.
Aceitou o convite, mas pediu, no entanto, o prazo de seis meses para se preparar.
O fato causou estranheza, pois todos sabiam que ele tinha capacidade e condições de falar a qualquer momento sobre o tema, e por isso o haviam convidado.
Transcorridos os seis meses, compareceu ele perante a assembléia em expectativa. Postou-se à tribuna e logo em seguida entraram dois criados, cada qual portando duas gaiolas.
Em cada uma havia um animal, sendo duas lebres e dois cães.
A um sinal previamente estabelecido, um dos criados abriu a porta de uma das gaiolas e uma lebre branca, saiu a correr, espantada.
Logo em seguida o outro criado abriu a gaiola em que estava um cão e este saiu em desabalada correria ao encalço da lebre. Alcançou-a com destreza, trucidando-a rapidamente.
A cena foi horrível e chocou a todos. Um grande susto tomou conta da assembléia e os corações pareciam saltar do peito. Ninguém conseguia entender o que Licurgo desejava com tal agressão. Mesmo assim, ele nada falou.
Tornou a repetir o sinal convencionado e a outra lebre foi libertada. A seguir, o outro cão.
O povo mal continha a respiração. Alguns, mais sensíveis, levaram as mãos aos olhos para não ver a reprise da morte bárbara do indefeso animalzinho que corria e saltava pelo palco. No primeiro instante, o cão investiu contra a lebre. Contudo, em vez de abocanhá-la, bateu-lhe com a pata e ela caiu. Logo a lebre ergueu-se e se pôs a brincar com o cão.
Para surpresa de todos, os dois ficaram demonstrando tranqüila convivência, saltitando e brincando de um lado a outro do palco.
Então, e somente então, Licurgo falou:
- Senhores, acabais de assistir a uma demonstração do que pode a educação. Ambas as lebres são filhas da mesma matriz, foram alimentadas igualmente e receberam os mesmos cuidados. Assim, igualmente, os cães.
- A diferença entre os primeiros e os segundos é, simplesmente, a educação.
E prosseguiu vivamente o seu discurso, dizendo das excelências do processo educativo:
- A educação, baseada numa concepção exata da vida, transformaria a face do mundo. Eduquemos nossos filhos, esclareçamos sua inteligência, mas, antes de tudo, falemos aos seus corações, ensinemos a eles a despojarem-se das suas imperfeições.
- Lembremo-nos de que a sabedoria por excelência consiste em nos tornarmos melhores.

domingo, 13 de maio de 2012

Quando Deus Criou as Mães


Quando Deus Criou as Mães
 
Diz uma lenda que o dia em que o bom Deus criou as mães, um mensageiro se acercou dele e lhe perguntou o porquê de tanto zelo com aquela criação.
Em que, afinal de contas, ela era tão especial?
O bondoso e paciente Pai de todos nós lhe explicou que aquela mulher teria o papel de mãe, pelo que merecia especial cuidado.
Ela deveria ter um beijo que tivesse o dom de curar qualquer coisa, desde leves machucados até namoro terminado.
Deveria ser dotada de mãos hábeis e ligeiras que agissem depressa preparando o lanche do filho, enquanto mexesse nas panelas para que o almoço não queimasse.
Que tivesse noções básicas de enfermagem e fosse catedrática em medicina da alma. Que aplicasse curativos nos ferimentos do corpo e colocasse bálsamo nas chagas da alma ferida e magoada.
Mãos que soubessem acarinhar, mas que fossem firmes para transmitir segurança ao filho de passos vacilantes. Mãos que soubessem transformar um pedaço de tecido quase insignificante numa roupa especial para a festinha da escola.
Por ser mãe deveria ser dotada de muitos pares de olhos. Um par para ver através de portas fechadas, para aqueles momentos em que se perguntasse o que é que as crianças estão tramando no quarto fechado.
Outro par para ver o que não deveria, mas precisa saber e, naturalmente, olhos normais para fitar com doçura uma criança em apuros e lhe dizer: “eu te compreendo. Não tenhas medo. Eu te amo”, mesmo sem dizer nenhuma palavra.
O modelo de mãe deveria ser dotado ainda da capacidade de convencer uma criança de nove anos a tomar banho, uma de cinco a escovar os dentes e dormir, quando está na hora.
Um modelo delicado, com certeza, mas resistente, capaz de resistir ao vendaval da adversidade e proteger os filhos, de superar a própria enfermidade em benefício dos seus amados e de alimentar uma família com o pão do amor.
Uma mulher com capacidade de pensar e fazer acordos com as mais diversas faixas de idade.
Uma mulher com capacidade de derramar lágrimas de saudade e de dor, mas ainda assim insistir para que o filho parta em busca do que lhe constitua a felicidade ou signifique seu progresso maior.
Uma mulher com lágrimas especiais para os dias da alegria e os da tristeza, para as horas de desapontamento e de solidão.
Uma mulher de lábios ternos que soubesse cantar canções de ninar para os bebês e tivesse sempre as palavras certas para o filho arrependido pelas tolices feitas.
Lábios que soubessem falar de Deus, do universo e do amor. Que cantassem poemas de exaltação à beleza da paisagem e aos encantos da vida.
Uma mulher. Uma mãe.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Até tu, Brutus?

Shakespeare conheceu profundamente a alma humana. Calcado na História ele construiu a extraordinária tragédia chamada Julius Cesar, um grande conquistador e herói de muitas batalhas. Ampliou enormemente as fronteiras do poderio romano. Mas a inveja dos poderosos haveria de condená-lo à morte. Espalharam que ele desejava ser uma espécie de tirano, destruindo a República. Para comandar o levante e a morte, o complô foi, dentre outros, coordenado por alguém que Júlio César sempre ajudou ao longo da vida. Uma espécie de filho querido. Brutus. Na escadaria do Senado, com sangue jorrando das artérias dilaceradas, Júlio César ainda teve tempo de constatar, dentre os que lhe apunhalavam, o filho querido. Daí a famosa frase: “Até tu, Brutus, filho meu!”   (Antônio Mourão Cavalcante)

CÉSAR, O BRUTO E O CASCA GROSSA

CÉSAR, O BRUTO E O CASCA GROSSA
                                                                                                      
Dai a César o que é de César”...
Quarenta e quatro anos antes de Cristo, num dia 15 de março, Caio Júlio César recebeu do senador Publius Servilius Casca aquilo que os republicanos julgavam devido ao César: o primeiro golpe de punhal, desferido pelas costas. Eram os idos de março.
Naquele tempo, o mês dos romanos dividia-se em função de três dias referenciais: as calendas (o dia em que o mês começava), as nonas (dia 5) e o idos (ou "idus"), o dia 13. Os outros dias (postridie) eram denominados a partir dessas calendas, nonas ou idos.
Cuidado com os idos de março!”, profetizou o harúspice Spurinna. Apesar disso, Júlio César entrou na sala do senado gracejando: - Tuas predições estavam erradas, Spurinna – pois os idos de março chegaram sem trazer-me nenhuma desgraça. – É certo, César; - respondeu o adivinho – os idos de março chegaram, porém ainda não passaram.
Entre aclamações de “salve, César!” os conjurados cercam-lhe o assento, tomam-lhe as mãos beijando-as em sinal de respeito e consideração: - Desejamos que sejas bem sucedido nos projetos de hoje....
Nisso, um pequeno grupo se aproximou. César, pressentindo a ameaça, levantou-se para recuá-los. Mas Túlio Cimber adiantou-se, descobriu-lhe os ombros enquanto Casca, vindo por detrás, desferiu o primeiro golpe no ombro do Imperador. César segurou o braço de Casca e exclamou: - Pérfido Casca, que fazes? E o agressor respondeu em grego: - Meu irmão, socorro! braços, falai por mim! Os senadores amontoaram-se sobre César desfechando-lhe vários golpes de punhal por todo o corpo. César tentou se defender como uma fera encurralada, mas no instante supremo, Marcus Junius Brutus – seu filho adotivo - desferiu-lhe o golpe de misericórdia na virilha. Agonizando, César olhou para seu protegido e disse: - Até tu, Brutus, meu menino?... e cobriu o rosto com a borda da toga, enquanto as adagas dos senadores transpassavam várias vezes o corpo já sem vida. 
Até aqui, tudo mal – esse episódio retrata o terrível aspecto humano que faz de quem auxilia e instrui, uma vítima da revolta do discípulo. Marcus Junius Brutus, protegido de Júlio César, reproduziu o papel do mitológico Seth egípcio que armou uma trama contra seu irmão Osíris, assassinando-o no dia 17 do mês de Háthor e mais tarde despedaçando-lhe o corpo em catorze pedaços espalhados pelo Nilo. Até aqui, como eu disse, tudo mal: o discípulo mata o mestre, Édipo mata o pai, Judas entrega Jesus.
Mas, no caso de César, o pior estava para acontecer. A narração está na tragédia “Julius Caesar” de Shakespeare – Terceiro Ato, Cena II, durante o discurso de Brutus aos cidadãos romanos: “Cidadãos romanos, amigos meus - fazei silêncio para que possais ouvir os meus motivos. Crede em mim e em minha honra para que possais vos convencer. Julgai-me segundo vossa sabedoria. E se aqui houver algum amigo afetuoso de César, dir-lhe-ei que o amor que eu dedicava a César não era menor. E se alguém me perguntar por qual motivo levantei-me contra César, minha resposta é que não foi por amar menos a César, mas por amar mais a Roma. Teríeis preferido César com vida e vós como escravos, ou que ele morresse, para que vivêsseis como homens livres? Por eu ter amado César, choro agora; quando ele foi feliz eu me alegrei e por ter sido valente, honro-o ainda. Mas, por ter sido ambicioso, matei-o. Portanto, lágrimas para a amizade, alegria para sua fortuna, honra para o valor e morte para a ambição. Haverá alguém aqui que tão vil deseje ser escravo? Se houver, que fale, pois o ofendi. Haverá alguém tão desprezível, que não ame sua pátria? Se houver, que fale, porque o ofendi.” E os cidadãos responderam em coro: “Ninguém, Brutus; ninguém!”.
Os historiadores dirão que esse discurso é imaginação típica da dramaturgia shakespeariana. Sim, pode ser. Mas que esse Marcus Junius Brutus era um bruto e Publius Servilius Casca um casca grossa, disso eu não tenho a menor dúvida.
(José Maurício Guimarães ) Arquivo do amigo J.R.Rocha