ME ABRACE PATIS

terça-feira, 8 de maio de 2012

CÉSAR, O BRUTO E O CASCA GROSSA

CÉSAR, O BRUTO E O CASCA GROSSA
                                                                                                      
Dai a César o que é de César”...
Quarenta e quatro anos antes de Cristo, num dia 15 de março, Caio Júlio César recebeu do senador Publius Servilius Casca aquilo que os republicanos julgavam devido ao César: o primeiro golpe de punhal, desferido pelas costas. Eram os idos de março.
Naquele tempo, o mês dos romanos dividia-se em função de três dias referenciais: as calendas (o dia em que o mês começava), as nonas (dia 5) e o idos (ou "idus"), o dia 13. Os outros dias (postridie) eram denominados a partir dessas calendas, nonas ou idos.
Cuidado com os idos de março!”, profetizou o harúspice Spurinna. Apesar disso, Júlio César entrou na sala do senado gracejando: - Tuas predições estavam erradas, Spurinna – pois os idos de março chegaram sem trazer-me nenhuma desgraça. – É certo, César; - respondeu o adivinho – os idos de março chegaram, porém ainda não passaram.
Entre aclamações de “salve, César!” os conjurados cercam-lhe o assento, tomam-lhe as mãos beijando-as em sinal de respeito e consideração: - Desejamos que sejas bem sucedido nos projetos de hoje....
Nisso, um pequeno grupo se aproximou. César, pressentindo a ameaça, levantou-se para recuá-los. Mas Túlio Cimber adiantou-se, descobriu-lhe os ombros enquanto Casca, vindo por detrás, desferiu o primeiro golpe no ombro do Imperador. César segurou o braço de Casca e exclamou: - Pérfido Casca, que fazes? E o agressor respondeu em grego: - Meu irmão, socorro! braços, falai por mim! Os senadores amontoaram-se sobre César desfechando-lhe vários golpes de punhal por todo o corpo. César tentou se defender como uma fera encurralada, mas no instante supremo, Marcus Junius Brutus – seu filho adotivo - desferiu-lhe o golpe de misericórdia na virilha. Agonizando, César olhou para seu protegido e disse: - Até tu, Brutus, meu menino?... e cobriu o rosto com a borda da toga, enquanto as adagas dos senadores transpassavam várias vezes o corpo já sem vida. 
Até aqui, tudo mal – esse episódio retrata o terrível aspecto humano que faz de quem auxilia e instrui, uma vítima da revolta do discípulo. Marcus Junius Brutus, protegido de Júlio César, reproduziu o papel do mitológico Seth egípcio que armou uma trama contra seu irmão Osíris, assassinando-o no dia 17 do mês de Háthor e mais tarde despedaçando-lhe o corpo em catorze pedaços espalhados pelo Nilo. Até aqui, como eu disse, tudo mal: o discípulo mata o mestre, Édipo mata o pai, Judas entrega Jesus.
Mas, no caso de César, o pior estava para acontecer. A narração está na tragédia “Julius Caesar” de Shakespeare – Terceiro Ato, Cena II, durante o discurso de Brutus aos cidadãos romanos: “Cidadãos romanos, amigos meus - fazei silêncio para que possais ouvir os meus motivos. Crede em mim e em minha honra para que possais vos convencer. Julgai-me segundo vossa sabedoria. E se aqui houver algum amigo afetuoso de César, dir-lhe-ei que o amor que eu dedicava a César não era menor. E se alguém me perguntar por qual motivo levantei-me contra César, minha resposta é que não foi por amar menos a César, mas por amar mais a Roma. Teríeis preferido César com vida e vós como escravos, ou que ele morresse, para que vivêsseis como homens livres? Por eu ter amado César, choro agora; quando ele foi feliz eu me alegrei e por ter sido valente, honro-o ainda. Mas, por ter sido ambicioso, matei-o. Portanto, lágrimas para a amizade, alegria para sua fortuna, honra para o valor e morte para a ambição. Haverá alguém aqui que tão vil deseje ser escravo? Se houver, que fale, pois o ofendi. Haverá alguém tão desprezível, que não ame sua pátria? Se houver, que fale, porque o ofendi.” E os cidadãos responderam em coro: “Ninguém, Brutus; ninguém!”.
Os historiadores dirão que esse discurso é imaginação típica da dramaturgia shakespeariana. Sim, pode ser. Mas que esse Marcus Junius Brutus era um bruto e Publius Servilius Casca um casca grossa, disso eu não tenho a menor dúvida.
(José Maurício Guimarães ) Arquivo do amigo J.R.Rocha

Nenhum comentário:

Postar um comentário